Os IPMN são as neoplasias císticas pancreáticas mais frequentes, e em algumas casuísticas a prevalência pode chegar a 25%, com maior incidência nos pacientes de faixas etárias mais avançadas. Na maior parte dos casos o diagnóstico é feito acidentalmente, muitas vezes é um achado de imagem, o paciente é assintomático.
A origem do cisto é o próprio ducto pancreático, embora a patogênese não seja clara até hoje. A principal característica é a produção de mucina, uma proteína densa que se acumula nos ductos, causando ectasia e dilatação dos mesmos.
Saiba mais sobre lesões císticas do pâncreas
Cisto adenoma seroso do pâncreas
Cisto adenoma mucinoso do pâncreas
Resumo da Live: lesões císticas do pâncreas
Classificação
Os IPMNs podem ser classificados como:
- IPMNs de ducto principal: quando a dilatação e ectasia é do próprio ducto de
Wirsung, podendo acometer o ducto todo ou apenas um segmento; - IPMNs de ductos secundários: quando as dilatações acometem os ductos menores
do pâncreas, podendo ser multifocais em até 67% dos casos; - IPMNs mistos: acometem tanto ducto principal quanto os ductos secundários, e se
comportam como os IPMNs de ducto principal.
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Quadro Clínico
A ampla maioria dos pacientes são assintomáticos, especialmente os que têm apenas dilatações de ductos secundários. Os sintomas que podem aparecer são: desconforto abdominal, icterícia e perda de peso. O aparecimento de sintomas,
especialmente icterícia, é considerado um sinal de alarme, muito sugestivo de malignização. Os pacientes sintomáticos deverão ser reavaliados com exame de imagem.
Diagnóstico
O diagnóstico é baseado em alteração de exames de imagem. Como foi dito anteriormente, muitas vezes o diagnóstico é incidental. Apesar disso, ao encontrarmos uma lesão suspeita de IPMN, é necessário o seguimento deste paciente.
Os exames de imagem que auxiliam no diagnóstico e seguimento são:
- Tomografia computadorizada: a tomografia não é o melhor exame para avaliação de lesões císticas pancreáticas, porém pode ser utilizada para pacientes com contraindicação à Ressonância Magnética. O exame deve ser realizado com administração de contraste endovenoso em protocolo com 2 fases: arterial e venosa. Auxilia no diagnóstico diferencial das dilatações ductais, como no caso de calcificações e tumores pancreáticos.
- Ressonância Magnética com Colangio Pancreato-ressonância: talvez seja o melhor
exame para avaliação de IPMNs, pois permite ver a comunicação ductal, determina
o exato segmento que a lesão se encontra e consegue avaliar sinais de
preocupação, como componente sólido intracístico, realce na parede da lesão e
acometimento de ducto principal. A MRCP é o exame de escolha para a avaliação
do cisto e avaliação de sinais preocupantes ou sinais de alarme. - Ecoendoscopia ou Ultrassom endoscópico: é um exame utilizado quando há dúvidas
diagnósticas (diferenciação entre lesão mucinosa e não mucinosa, por exemplo) ou
quando há suspeita de transformação maligna, visto que permite a punção do cisto
com análise bioquímica (dosagem de amilase, CEA e glicose) além de citologia. As
lesões menores de 1 cm não devem ser puncionadas, pois o risco de já serem
malignas é muito baixo, além de não conseguir material suficiente para análise
bioquímica. Para a análise citológica que é realizada em bloco, há uma tendência a
utilização de agulhas de biópsia (FNB) ao invés de agulhas finas (FNA), o que
parece melhorar a acurácia dos diagnósticos de displasias.
O exame de ultrassom convencional tem baixa acurácia para diagnóstico de lesões císticas pancreáticas, embora possa ser usado para seguimento das lesões já bem estabelecidas.
Critérios de gravidade
O consenso de Fukuoka, datado de 2012, sugere fatores de alto risco para evolução dos IPMNs.
Os critérios de alarme são:
- Envolvimento de ducto principal com dilatação > 10 mm
- Nódulo mural > 5 mm com captação de contraste
- Icterícia obstrutiva
Os chamados sinais ¨preocupantes¨ são:
- Pancreatite aguda
- Cisto > 3cm
- Espessamento e hipercaptação na parede do cisto
- Envolvimento do ducto pancreático principal entre 5-9mm
- Nódulo mural sem realce pelo contraste
- Transição abrupta de calibre do ducto principal, com atrofia do parênquima distal
- Crescimento do cisto > 5 mm em 2 anos
Nota: em 2023 houve a publicação do Guideline de Kyoto com atualizações nesses conceitos. Para saber mais confira esses artigos: Guideline de Kyoto – atualizações na abordagem dos IPMNs – Parte I; Guideline de Kyoto – atualizações na abordagem dos IPMNs – Parte I
Condução
Os pacientes com critérios de alarme deverão ser considerados para a cirurgia, caso tenham condições para tal procedimento.
Os pacientes com ¨sinais preocupantes¨devem ser seguidos, e possivelmente puncionados por Ecoendoscopia. Deverão ser seguidos conforme o algoritmo de manejo de pacientes com IPMN (figura 1).
Os consensos para manejo dos IPMNs estão em constante mudança, estabelecendo novos critérios para indicação de ressecção cirúrgica.
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Como citar esse artigo
Marzinotto M. Neoplasias Papilíferas Intraductais Produtoras de Mucina. Gastropedia, 2022. Dísponivel em: https://gastropedia.pub/pt/gastroenterologia/pancreas/neoplasias-papiliferas-intraductais-produtoras-de-mucina-ipmn/
Bibliografia
- Tanaka, M. et al. International consensus guidelines 2012 for the management of IPMN and MCN of the pancreas Pancreatology 12 (2012) 183e197
- van Huijgevoort, NCM et al. Diagnosis and management of pancreatic cystic neoplasms: current evidence and guidelines. Nature Reviews | Gastroenterology & Hepatology, 2019.
- Sakorafas, GH et al. Primary pancreatic cystic neoplasms revisited. Part III. Intraductal papillary mucinous neoplasms. Surgical Oncology 20 (2011) e109ee118
- Elta, GH et al. ACG Clinical Guideline: Diagnosis and Management of Pancreatic Cysts. Am J Gastroenterol 2018; 113:464–479
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Medica responsável pelo Grupo de Pâncreas da Disciplina de Gastroenterologia Clínica do HCFMUSP