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Enzimas pancreáticas: quais as suas funções e quando precisamos repor?

por Guilherme Sauniti
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Entenda o papel vital das enzimas pancreáticas na digestão, identifique sinais de disfunção e descubra tratamentos eficazes para manter seu bem-estar. 

Neste artigo, exploraremos detalhadamente as funções dessas enzimas, os sinais que indicam a necessidade de reposição e os tratamentos eficazes disponíveis para promover o bem-estar digestivo.

O que são enzimas pancreáticas e suas funções?

As enzimas pancreáticas são substâncias produzidas pelo pâncreas, uma glândula localizada na região abdominal, com importantes funções no processo digestivo. 

O pâncreas é o órgão responsável pela produção de várias enzimas, incluindo a amilase, lipase e proteases, que desempenham papéis essenciais na quebra de macronutrientes presentes nos alimentos que consumimos diariamente.

A amilase é uma enzima responsável pela quebra de carboidratos complexos, como amido e glicogênio, em moléculas menores, como lactose, sacarose e maltose.

Essas moléculas menores podem posteriormente terminar sua digestão e serem absorvidas pelo intestino delgado para fornecer energia ao organismo. 

Já a lipase é fundamental para a digestão de gorduras. 

Ela age sobre os triglicerídeos, decompondo-os em ácidos graxos e glicerol, que são absorvidos pelas células intestinais e transportados pela corrente sanguínea para serem utilizados como fonte de energia ou armazenados no tecido adiposo.

Além disso, as proteases são enzimas responsáveis pela quebra de proteínas em aminoácidos, que são os blocos de construção essenciais para o crescimento, reparo e manutenção dos tecidos do corpo. 

As enzimas que o pâncreas produz são liberadas no intestino delgado durante a digestão, onde atuam em conjunto com enzimas produzidas pelo próprio intestino para garantir a digestão completa dos alimentos e a absorção eficiente de nutrientes.

Como e quando repor as enzimas pancreáticas?

A reposição de enzimas do pâncreas é necessária quando há uma deficiência na produção dessas substâncias pelo pâncreas, resultando em problemas digestivos e má absorção de nutrientes. 

Os sintomas comuns de deficiência dessas enzimas incluem diarreia  com gases frequentemente, fezes gordurosas, distensão abdominal e perda de peso não intencional. Quando esses sinais estão presentes, é importante buscar orientação médica para avaliação e diagnóstico adequados.

O médico pode solicitar exames específicos, como testes de fezes para verificar a presença de gordura não digerida ou exames de imagem para avaliar possíveis alterações pancreáticas para determinar a necessidade de reposição. 

Se a deficiência for confirmada, o médico pode prescrever suplementos para ajudar na digestão dos alimentos e aliviar os sintomas associados à má absorção de nutrientes.

A reposição é geralmente feita antes das refeições, para garantir que as enzimas estejam disponíveis no momento da ingestão de alimentos. 

A dosagem e o tipo de suplemento podem variar conforme a gravidade da deficiência e as necessidades individuais do paciente. 

É importante seguir rigorosamente as instruções do médico quanto à dosagem e ao horário de administração dos suplementos para garantir a eficácia do tratamento.

Fora a reposição dessas enzimas, algumas medidas dietéticas também podem ser recomendadas para melhorar a digestão e a absorção de nutrientes. 

Isso pode incluir uma dieta rica em fibras, fracionamento das refeições em porções menores e redução do consumo de alimentos gordurosos, que podem ser mais difíceis de digerir para pessoas com deficiência de enzimas pancreáticas.

A reposição de enzimas é um componente importante no tratamento de condições como a insuficiência pancreática exócrina e outras doenças que afetam a função do pâncreas. 

Ao seguir o plano de tratamento recomendado pelo médico e fazer ajustes no estilo de vida, é possível melhorar a digestão, aliviar os sintomas e promover o bem-estar geral.

Exames para identificar a disfunção das enzimas pancreáticas

Para identificar a disfunção das enzimas, uma série de exames pode ser realizada para avaliar a função pancreática e diagnosticar possíveis problemas. 

Um dos exames mais comuns é o teste de função pancreática fecal, que envolve a coleta de amostras de fezes para análise laboratorial. 

Neste teste, a presença de gordura não digerida nas fezes pode indicar uma deficiência na produção de enzimas pelo pâncreas, sugerindo uma possível disfunção.

Os exames de sangue também podem ser realizados para medir os níveis de enzimas pancreáticas, como a amilase e a lipase, no sangue. 

A elevação dos níveis dessas enzimas pode indicar inflamação ou lesão no pâncreas, o que pode afetar a produção de enzimas digestivas. 

No entanto, é importante observar que esses exames nem sempre são conclusivos e podem ser afetados por outros fatores, como o tempo desde o início dos sintomas.

Outro exame que pode ser útil é a ultrassonografia abdominal, que permite visualizar o pâncreas e detectar possíveis anormalidades, como tumores ou cistos. 

A tomografia computadorizada (TC) e a ressonância magnética (RM) também podem ser usadas para avaliar o pâncreas com mais detalhes e identificar qualquer problema estrutural que possa estar afetando a função pancreática.

Em alguns casos, procedimentos mais invasivos, como a colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE) ou a ecoendoscopia, podem ser necessários para obter imagens mais detalhadas do pâncreas e das vias biliares e pancreáticas.

Esses procedimentos podem ajudar a identificar obstruções ou outras anormalidades que possam estar causando disfunção pancreática.

Em resumo, existem vários exames disponíveis para identificar a disfunção das enzimas, cada um com suas próprias vantagens e limitações. 

O médico pode recomendar um ou mais desses exames, dependendo dos sintomas apresentados pelo paciente e da suspeita de uma possível disfunção pancreática.

Por que ocorre a disfunção?

A disfunção das enzimas do pâncreas pode ocorrer por uma variedade de razões, geralmente relacionadas a condições médicas subjacentes que afetam o funcionamento do pâncreas. 

Uma das causas mais comuns é a pancreatite, uma inflamação aguda ou crônica do pâncreas. 

A pancreatite aguda é geralmente desencadeada por cálculos biliares ou consumo excessivo de álcool, enquanto a pancreatite crônica pode resultar de uma variedade de fatores, incluindo alcoolismo crônico, tabagismo, hiperlipidemia ou uma condição genética.

Outra causa de disfunção pancreática é a fibrose cística, uma doença genética que afeta as glândulas exócrinas, incluindo o pâncreas. 

Na fibrose cística, os ductos pancreáticos ficam obstruídos com muco espesso, impedindo a liberação adequada de enzimas digestivas no intestino delgado.

Isso leva à má absorção de nutrientes e pode resultar em desnutrição e outros problemas de saúde.

Outras condições médicas, como diabetes mellitus, câncer de pâncreas, doenças autoimunes e cirurgias abdominais, também podem afetar a função pancreática e levar à disfunção das enzimas. 

O uso prolongado de certos medicamentos, como inibidores da bomba de prótons (IBPs) e antiácidos, também pode interferir na produção ou na liberação das enzimas.

Fatores como idade avançada, obesidade e histórico familiar de doenças pancreáticas também podem aumentar o risco de disfunção nessas enzimas. 

Em muitos casos, a disfunção é multifatorial, resultante da interação complexa entre fatores genéticos, ambientais e de estilo de vida.

Diante dessas causas potenciais, é fundamental buscar avaliação médica adequada se houver suspeita da disfunção. 

O diagnóstico precoce e o tratamento adequado das condições subjacentes são essenciais para prevenir complicações e melhorar a qualidade de vida do paciente.

Em conclusão, entender o papel das enzimas liberadas pelo pâncreas na digestão é essencial para identificar sinais de disfunção e buscar tratamento adequado. 

Com exames precisos e diagnóstico precoce, é possível enfrentar as causas subjacentes da disfunção, que podem variar desde pancreatite até condições genéticas. Ao seguir o plano de tratamento orientado pelo médico, é possível aliviar os sintomas, promover a saúde digestiva e melhorar a qualidade de vida.

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Doutor em Gastroenterologia pela FM-USP.
Especialista em Cirurgia do Aparelho Digestivo (HCFMUSP), Endoscopia Digestiva (SOBED) e Gastroenterologia (FBG).
Professor do curso de Medicina da Fundação Educacional do Município de Assis - FEMA.
Médico da clínica Gastrosaúde de Marília.


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