V Consenso Brasileiro sobre Helicobacter pylori: O que há de novo?
Diante do avanço contínuo da resistência à claritromicina, torna-se imprescindível atualizar as recomendações terapêuticas para Helicobacter pylori. Na XXIV Semana Brasileira do Aparelho Digestivo (SBAD), realizada de 13 a 15 de novembro de 2025 em São Paulo, o Núcleo Brasileiro para Estudo do H. pylori e Microbiota apresentou as diretrizes do novo consenso brasileiro, cuja publicação oficial está prevista para o primeiro semestre de 2026.
Como superar a resistência aos antibióticos?
O V Consenso Brasileiro irá focar em três pilares para otimizar a eficácia terapêutica:
- Adição de bismuto: Auxilia a superar resistência a claritromicina, levofloxacino e metronidazol.
- Maior inibição ácida: Uso de bloqueador ácido competitivo de canal de potássio (PCAB) ou aumento da dose e frequência de IBP.
- Maior dose de amoxicilina: Estratégia já discutida em outro post do Gastropedia (Terapia dupla com altas doses de amoxicilina: faz sentido utilizar para erradicação de Helicobacter pylori?)
1ª linha de tratamento para H. pylori
- Esquema quádruplo com bismuto, metronidazol e tetraciclina com IBP ou PCAB (quando disponível) por 10 a 14 dias
- Terapia tríplice de claritromicina e amoxicilina por 14 dias, otimizada com associação ao bismuto e/ou substituição do IBP pelo PCAB (quando disponível) duas vezes por dia
- Na indisponibilidade do bismuto, pode ser empregada a terapia dupla com amoxicilina 3-4 g/dia, em 3 ou 4 tomadas ao dia associada ao IBP (em dose alta, 3 a 4 vezes ao dia), ou preferencialmente ao PCAB (Vonoprazan 20 mg duas vezes ao dia) quando disponível, por 14 dias
- A terapia concomitante com IBP ou PCAB (quando disponível) por 14 dias pode ser uma opção.
2ª linha de tratamento
Regra de ouro: não repetir o esquema usado em 1ª linha. Estão indicados:
- Esquema quádruplo com bismuto, metronidazol e tetraciclina com IBP ou PCAB (quando disponível) por 10 a 14 dias
- Esquema amoxicilina-levofloxacino-bismuto associado a IBP ou PCAB (quando disponível) por 14 dias
- Na indisponibilidade do bismuto, pode ser empregada a terapia dupla com amoxicilina 3-4 g/dia, em 3 ou 4 tomadas ao dia associada ao IBP (em dose alta, 3 a 4 vezes ao dia), ou preferencialmente ao PCAB (Vonoprazan 20 mg duas vezes ao dia) quando disponível, por 14 dias
Terapias de resgate
Mais uma vez: não repetir esquemas previamente utilizados. Estão indicados:
- Esquema quádruplo com bismuto, metronidazol e tetraciclina com IBP ou PCAB (quando disponível) por 10 a 14 dias
- Terapia tripla com rifabutina e amoxicilina, associada a IBP ou PCAB (quando disponível) por 14 dias, especialmente quando a terapia quádrupla com bismuto não estiver disponível ou se já foi utilizada.
- Na ausência de bismuto e rifabutina, a terapia dupla com amoxicilina 3-4 g/dia, em 3 ou 4 tomadas ao dia associada ao IBP (em dose alta, 3 a 4 vezes ao dia), ou preferencialmente ao PCAB (Vonoprazan 20 mg duas vezes ao dia) quando disponível, por 14 dias
Alergia a penicilina
1ª linha
- Esquema quádruplo com bismuto, metronidazol e tetraciclina com IBP ou PCAB (quando disponível) por 10 a 14 dias
- Terapia dupla com tetraciclina e PCAB, quando disponível, por 14 dias
2ª linha: Pode ser utilizada uma das opções anteriores não empregadas, além e terapia tríplice com quinolona e claritromicina por 14 dias.
Quando recomendar testes de sensibilidade antibiótica na prática clínica?
- A terapia tríplice de IBP-Amoxicilina-Claritromicina e IBP-Amoxicilina-Levofloxacino idealmente devem ser empregadas após testes de sensibilidade, quando disponíveis
- Após três falhas terapêuticas, os testes de sensibilidade deveriam ser empregados, quando disponíveis.
Qual é o papel dos probióticos?
Algumas cepas probióticas específicas podem exercer efeito adjuvante no tratamento de H. pylori, contribuindo tanto para aumentar as taxas de erradicação quanto para reduzir os efeitos colaterais associados ao uso de antibióticos.
No entanto, ainda são necessários estudos adicionais para definir com precisão quais cepas, quais doses, em que momento e por quanto tempo a suplementação deve ser realizada para otimizar esses benefícios
Considerações finais
Em síntese, o novo consenso brasileiro representa um avanço importante e aproxima o país das recomendações internacionais mais recentes para o manejo do H. pylori. O documento reforça o papel da associação de bismuto (ainda dependente das farmácias de manipulação no Brasil, o que restringe sua ampla adoção) e também valoriza o uso, quando disponível, dos PCABs (embora o seu custo ainda limite a aplicação em alguns cenários).
Referência
- COELHO, LGZ. V Consenso Brasileiro sobre a infecção por H. pylori. Apresentado em: XXIV Semana Brasileira do Aparelho Digestivo (SBAD); 2025; São Paulo, Brasil.
Como citar este artigo
Lages RB. V Consenso Brasileiro sobre Helicobacter pylori: O que há de novo? Gastropedia 2025, Vol II. Disponível em: https://gastropedia.pub/pt/gastroenterologia/v-consenso-brasileiro-sobre-helicobacter-pylori-o-que-ha-de-novo/