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Retocolite ulcerativa: Tudo o que você precisa saber sobre essa doença inflamatória intestinal

por Guilherme Sauniti
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A retocolite ulcerativa é uma condição autoimune crônica que afeta o cólon e o reto, provocando inflamação e úlceras. 

Neste artigo, vamos falar sobre tudo o que você precisa saber sobre a retocolite ulcerativa: desde o que é, suas causas e sintomas, até opções de tratamento e maneiras de se viver melhor com a doença.

O que é a retocolite ulcerativa?

A retocolite ulcerativa é uma forma de doença inflamatória intestinal (DII) que afeta o cólon, também conhecido como intestino grosso, e o reto, a porção final do trato gastrointestinal.

Essa condição crônica é caracterizada por inflamação contínua  do revestimento interno desses órgãos.

A inflamação geralmente começa no reto e pode se estender de forma contínua ao longo do cólon. 

Diferente de outras condições intestinais, como a doença de Crohn, que pode afetar qualquer parte do trato gastrointestinal e pode ter áreas inflamatórias intercaladas com áreas saudáveis, a retocolite é restrita ao revestimento do cólon e do reto, sem interrupções.

Os sintomas podem variar amplamente dependendo da gravidade da inflamação e da extensão do cólon afetado. Em casos leves, os sintomas podem ser moderados e intermitentes, enquanto em casos graves, podem ser debilitantes e constantes. 

A doença apresenta um padrão de exacerbações e remissões, onde os pacientes podem passar por períodos de melhora temporária seguidos por surtos agudos de sintomas.

O impacto da doença na qualidade de vida pode ser significativo. 

A inflamação crônica e a formação de úlceras no revestimento intestinal podem levar a sintomas como dor abdominal, diarreia sanguinolenta, urgência para evacuar e perda de peso.

Além disso, a condição pode aumentar o risco de complicações, como sangramentos intestinais e, em casos prolongados, câncer colorretal.

O diagnóstico precoce e o tratamento adequado são essenciais para gerenciar a condição e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. 

Com a intervenção médica apropriada, muitos indivíduos com a doença conseguem controlar a doença, minimizando os sintomas e mantendo uma vida ativa e produtiva.

Causas e fatores de risco da retocolite ulcerativa

A retocolite ulcerativa é uma condição complexa e suas causas exatas ainda não são completamente compreendidas. 

No entanto, os pesquisadores identificaram uma combinação de fatores genéticos, ambientais e imunológicos que provavelmente desempenham um papel no desenvolvimento e na progressão da doença.

Fatores genéticos

Estudos mostram que pessoas com histórico familiar dessa ou de outras doenças inflamatórias intestinais têm um risco maior de desenvolver a condição. Isso indica que certos genes podem aumentar a susceptibilidade à doença.

A pesquisa genética está em andamento para identificar quais genes específicos podem estar envolvidos e como eles interagem com outros fatores para contribuir para o desenvolvimento da retocolite.

Fatores imunológicos

A teoria mais amplamente aceita é que a doença ocorre quando o sistema imunológico, que normalmente protege o corpo contra infecções e patógenos, começa a atacar erroneamente as células saudáveis do revestimento intestinal (autoimune).

Esse ataque leva à inflamação crônica e à formação de úlcera.

É como se o sistema imunológico se tornasse hiperativo e inflamasse o intestino sem uma causa infecciosa aparente. 

Essa resposta imunológica anormal pode ser desencadeada por uma variedade de fatores, incluindo anormalidades na microbiota intestinal, que é o conjunto de microrganismos que vivem no intestino.

Fatores ambientais

Entre esses fatores, a dieta é frequentemente mencionada. 

Dietas ricas em gordura e açúcar e pobres em fibras podem contribuir para o agravamento dos sintomas, embora não se estabeleça uma relação causal direta. 

Além disso, infecções virais ou bacterianas podem desencadear ou exacerbar a doença em indivíduos predispostos, agindo como um gatilho para a resposta imunológica alterada. 

O uso de certos medicamentos, como anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), também pode agravar os sintomas, embora não sejam considerados uma causa direta.

Outros fatores

Além dos fatores genéticos, imunológicos e ambientais, o estresse também é frequentemente citado como um fator que pode agravar a doença, embora não seja considerado uma causa primária. 

O estresse pode impactar o sistema imunológico e o funcionamento do intestino, exacerbando potencialmente os sintomas em indivíduos já suscetíveis.

Sintomas da retocolite ulcerativa

Os sintomas geralmente se desenvolvem gradualmente e podem se apresentar em episódios de exacerbação e remissão.

Sintomas gastrointestinais

Dor abdominal

Diarreia crônica

Urgência para evacuar

Perda de peso inexplicada

Sangramento nas fezes

Sintomas sistêmicos e adicionais

Fadiga

Febre baixa

Dores articulares

Anemia

Complicações potenciais

Hemorragias intestinais

Risco aumentado de câncer colorretal

Complicações extraintestinais

Diagnóstico da retocolite ulcerativa

O diagnóstico da doença é um processo abrangente que envolve uma combinação de avaliações clínicas, exames laboratoriais e procedimentos de imagem para confirmar a presença da doença e determinar sua extensão e gravidade. 

O processo começa geralmente com uma consulta médica detalhada, onde o médico realiza uma anamnese completa e um exame físico. 

Durante essa etapa, o paciente descreve seus sintomas, como dor abdominal, frequência e características da diarreia, e a presença de sangue nas fezes, além de relatar quaisquer sintomas adicionais como fadiga e perda de peso. 

A história familiar de doenças inflamatórias intestinais também é discutida, pois fatores genéticos podem desempenhar um papel importante na condição.

Após a avaliação inicial, o próximo passo é a realização de uma colonoscopia. Este procedimento endoscópico permite ao médico visualizar diretamente o revestimento do cólon e do reto. 

Além disso, biópsias podem ser feitas durante o exame, coletando pequenos fragmentos do revestimento intestinal para análise laboratorial. A análise das biópsias é fundamental para confirmar a presença de inflamação crônica e excluir outras condições, como o câncer.

Exames laboratoriais complementam o diagnóstico, fornecendo informações adicionais sobre o estado geral de saúde do paciente e ajudando a identificar sinais de inflamação. 

Os exames de sangue podem mostrar níveis elevados de leucócitos, indicando uma resposta inflamatória, e anemia, que pode ocorrer devido à perda crônica de sangue. 

Da mesma forma, exames de fezes podem detectar a presença de sangue oculto e identificar infecções bacterianas, parasitárias ou virais que possam ter sintomas semelhantes.

Tratamento da retocolite ulcerativa

O tratamento da doença visa reduzir a inflamação, aliviar os sintomas e manter a remissão. 

As opções de tratamento incluem medicamentos anti-inflamatórios, imunossupressores e agentes biológicos, que ajudam a controlar a resposta imunológica. 

Em casos graves ou quando os tratamentos medicinais não são eficazes, pode ser necessária uma cirurgia para remover parte ou todo o cólon. 

Dicas para lidar com a retocolite ulcerativa no dia a dia

Lidar com a doença pode ser desafiador, mas algumas estratégias podem ajudar a melhorar a qualidade de vida. 

Manter uma dieta equilibrada e identificar alimentos que podem desencadear sintomas pode ser benéfico. 

A prática regular de exercícios físicos moderados também pode ajudar a melhorar o bem-estar geral. 

É fundamental ter um acompanhamento médico contínuo e seguir o plano de tratamento prescrito. 

Conclusão

A retocolite ulcerativa é uma doença inflamatória intestinal que afeta o cólon e o reto, provocando uma série de sintomas desconfortáveis e desafiadores. 

Com a abordagem correta e um bom suporte médico, é possível levar uma vida ativa apesar da condição.

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Doutor em Gastroenterologia pela FM-USP.
Especialista em Cirurgia do Aparelho Digestivo (HCFMUSP), Endoscopia Digestiva (SOBED) e Gastroenterologia (FBG).
Professor do curso de Medicina da Fundação Educacional do Município de Assis - FEMA.
Médico da clínica Gastrosaúde de Marília.


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