Início » Gastrectomia: tudo o que você precisa saber

Gastrectomia: tudo o que você precisa saber

por Guilherme Sauniti
Compartilhe:

Essa é uma cirurgia importante que envolve a remoção parcial ou total do estômago e é indicada em algumas situações médicas. 

Este procedimento requer um entendimento abrangente tanto dos aspectos técnicos quanto dos cuidados necessários antes e depois da operação. Neste artigo, vamos abordar tudo o que você precisa saber sobre a gastrectomia. Acompanhe o artigo completo.

O que é a gastrectomia?

Trata-se de uma intervenção cirúrgica que envolve a remoção parcial ou total do estômago.

Este procedimento é frequentemente necessário para tratar uma variedade de condições graves e potencialmente fatais, como o câncer gástrico, úlceras pépticas refratárias ao tratamento convencional, e certas condições benignas como tumores estomacais ou a doença de Ménétrier.

A extensão da remoção do estômago depende da gravidade e localização da condição a ser tratada. Quando realizada por total, o estômago é completamente removido e o esôfago é ligado diretamente ao intestino delgado. 

Já na parcial, apenas uma parte do estômago é retirada, geralmente a porção inferior. 

Existem também procedimentos específicos, onde cerca de 80% do estômago é removido, transformando-o em um tubo fino, e outros que envolvem a remoção de pequenas áreas do estômago.

Indicações para a gastrectomia

Ela é indicada em várias condições médicas que exigem a remoção total ou parcial do estômago para garantir a saúde e o bem-estar do paciente. As principais indicações são:

Câncer de estômago

Esta cirurgia é frequentemente realizada para tratar o câncer gástrico

A remoção do estômago, seja parcial ou total, pode ser necessária para eliminar completamente o tumor e prevenir a sua disseminação para outras partes do corpo.

Úlceras gástricas severas

Em casos de úlceras pépticas que não respondem ao tratamento médico convencional, ou ja causaram importante alterações anatômicas, pode ser necessária a remoção de parte do estômago afetada e prevenir complicações graves, como sangramento,  perfuração ou estenoses.

Tumores benignos

Embora não sejam cancerígenos, tumores benignos no estômago podem causar sintomas significativos e potencialmente evoluir para condições mais graves. 

A remoção desses tumores pode ser feita através dessa cirurgia.

Doença de Ménétrier

Esta é uma condição rara que provoca o espessamento das paredes do estômago, levando à produção excessiva de muco e perda de proteínas. 

Em casos graves, este procedimento cirúrgico pode ser indicado para aliviar os sintomas e melhorar a qualidade de vida do paciente.

Polipose adenomatosa familiar

Esta condição genética predispõe os pacientes ao desenvolvimento de múltiplos pólipos no estômago, que podem evoluir para câncer e a cirurgia pode ser realizada como medida preventiva.

Obesidade mórbida

Em casos de obesidade extrema, a gastrectomia em manga (ou sleeve gastrectomy) é uma das opções cirúrgicas para reduzir o tamanho do estômago, limitando a ingestão de alimentos e ajudando na perda de peso significativa e sustentada.

Tipos de gastrectomia

Existem vários tipos e cada um é adaptado às necessidades específicas do paciente e à natureza da condição a ser tratada. 

A escolha do tipo depende da localização e da extensão da doença no estômago. Aqui estão os principais tipos:

Gastrectomia total

Nesta cirurgia, todo o estômago é removido. 

O esôfago é então ligado diretamente ao intestino delgado, permitindo que a comida passe do esôfago para o intestino sem passar pelo estômago. 

Gastrectomia parcial (ou subtotal)

Apenas uma parte do estômago é removida, normalmente a parte inferior. 

O restante do estômago é ligado ao intestino delgado. 

Gastrectomia em Manga (Sleeve Gastrectomy)

Neste procedimento, aproximadamente 80% do estômago é removido, deixando um tubo fino ou “manga”. 

Gastrectomia em cunha

Este procedimento envolve a remoção de pequenas áreas do estômago, geralmente devido à presença de tumores benignos ou úlceras localizadas. 

Gastrectomia distal ou  antrectomia

Envolve a remoção do antro, a parte inferior do estômago, que é responsável pela produção de hormônios que estimulam a produção de ácido gástrico. 

Preparação para a cirurgia de gastrectomia

A preparação para a cirurgia envolve várias etapas essenciais para garantir que o paciente esteja em boas condições para o procedimento e a recuperação subsequente. 

Inicialmente, o paciente passa por uma avaliação médica completa, incluindo exames de sangue, endoscopia e tomografia computadorizada, para determinar a extensão da doença e planejar a cirurgia.

Mudanças no estilo de vida são recomendadas, como cessar o tabagismo e reduzir o consumo de álcool, para melhorar a condição geral do paciente. 

O médico pode aconselhar a perda de peso, se necessário. Nos dias que antecedem a cirurgia, o paciente segue uma dieta específica, geralmente de líquidos claros, e deve jejuar por um período antes do procedimento.

A revisão dos medicamentos é essencial; alguns medicamentos, como anticoagulantes, podem ser interrompidos para reduzir o risco de sangramento. Ajustes em medicamentos para diabetes ou hipertensão podem ser necessários.

Como é realizada a gastrectomia?

Ela é realizada por meio de dois métodos principais: cirurgia aberta ou laparoscópica. 

Na cirurgia aberta, uma incisão  é feita no abdômen para acessar diretamente o estômago, sendo geralmente usada em casos de câncer avançado ou quando é necessário remover uma grande parte do estômago. 

Na cirurgia laparoscópica, pequenas incisões são feitas para inserir instrumentos cirúrgicos e uma câmera, permitindo uma abordagem menos invasiva com menor tempo de recuperação. 

Durante o procedimento, a parte do estômago afetada é removida e as partes remanescentes são reconectadas ao trato digestivo para manter a funcionalidade.

Recuperação após a gastrectomia

A recuperação pós-cirúrgica envolve um período inicial de internação hospitalar, onde o paciente é monitorado de perto para controlar a dor e prevenir complicações.

Nos primeiros dias, a alimentação é feita via sonda, progredindo gradualmente de líquidos claros para alimentos sólidos conforme a tolerância. O paciente é incentivado a se movimentar o mais cedo possível para evitar complicações como trombose venosa profunda. Após a alta hospitalar, é essencial seguir uma dieta específica, com orientação de um nutricionista, e realizar consultas regulares com o médico para monitorar a recuperação. 

A adaptação a um novo regime alimentar e o gerenciamento de possíveis deficiências nutricionais são partes cruciais do processo de recuperação.

Possíveis complicações da gastrectomia

Como qualquer cirurgia, apresenta riscos de complicações. 

Entre as possíveis complicações estão infecções, que pode ocorrer no local da incisão ou internamente, e sangramento, que pode acontecer durante ou após a cirurgia. 

Outra complicação possível é a formação de fístulas, que são conexões anormais entre o estômago e outros órgãos. 

A desnutrição é um risco devido à redução da capacidade de digestão e absorção de nutrientes. 

A síndrome de dumping pode ocorrer, caracterizada por sintomas como náusea, vômito e diarreia após comer, devido à rápida passagem de alimentos para o intestino delgado. 

O estreitamento do estômago por cicatrização excessiva pode causar obstrução, e o refluxo ácido pode aumentar após a cirurgia. 

A monitorização cuidadosa e o acompanhamento pós-operatório são essenciais para identificar e tratar essas complicações rapidamente.

Dieta pós-gastrectomia

Inicialmente, é recomendado seguir uma dieta líquida clara ou pastosa, progredindo gradualmente para alimentos sólidos conforme a tolerância. Refeições menores e mais frequentes ajudam na digestão. 

É fundamental evitar alimentos que possam causar desconforto digestivo, como alimentos gordurosos, muito condimentados ou fibrosos. 

Um acompanhamento nutricional regular é essencial para garantir a ingestão adequada de nutrientes e prevenir deficiências nutricionais.

Compreender os diferentes tipos de gastrectomia, os cuidados pré e pós-operatórios necessários, e as possíveis complicações ajuda a preparar melhor os pacientes e suas famílias para enfrentar os desafios dessa jornada. 

A recuperação bem-sucedida não se resume apenas à cicatrização física, mas também à adaptação a um novo estilo de vida alimentar e ao suporte contínuo de profissionais de saúde especializados.

+ posts

Doutor em Gastroenterologia pela FM-USP.
Especialista em Cirurgia do Aparelho Digestivo (HCFMUSP), Endoscopia Digestiva (SOBED) e Gastroenterologia (FBG).
Professor do curso de Medicina da Fundação Educacional do Município de Assis - FEMA.
Médico da clínica Gastrosaúde de Marília.


Compartilhe:

Artigos relacionados

Deixe seu comentário