Essa é uma doença inflamatória intestinal que afeta o revestimento do intestino grosso (cólon) e do reto. É uma condição crônica que pode causar desconforto significativo e impactar a qualidade de vida dos pacientes.
Este guia completo sobre colite ulcerativa irá esclarecer dúvidas comuns, bem como fornecer informações essenciais sobre os sintomas, tratamento e prevenção dessa doença.
O que é a colite ulcerativa?
É uma doença inflamatória crônica que afeta o intestino grosso, incluindo o cólon e o reto. A inflamação provoca o desenvolvimento de úlceras na mucosa intestinal, causando sintomas como diarreia, dor abdominal e sangramento retal.
Trata-se de uma condição autoimune, o que significa que o sistema imunológico do corpo ataca erroneamente o tecido saudável do intestino.
Embora a causa exata da doença não seja completamente compreendida, acredita-se que uma combinação de fatores genéticos, ambientais e imunológicos esteja envolvida.
Esta doença é parte de um grupo maior de condições chamadas doenças inflamatórias intestinais (DII), que também inclui a doença de Crohn. Diferente da doença de Crohn, que pode afetar qualquer parte do trato gastrointestinal, a colite é limitada ao cólon e ao reto.
A inflamação geralmente começa no reto e se espalha de forma contínua pelo cólon. A doença pode variar de leve a grave e, em alguns casos, pode ser debilitante.
Sintomas da colite ulcerativa
Os sintomas podem variar de leves a graves e podem surgir gradualmente ou de forma repentina. Os principais sintomas são:
Diarreia crônica: frequentemente acompanhada por sangue ou pus.
Dor abdominal: geralmente na parte inferior do abdômen.
Urgência fecal: sensação intensa de necessidade de evacuar.
Perda de peso: devido à má absorção de nutrientes e ao apetite reduzido.
Fadiga: causada pela inflamação crônica e pela perda de sangue.
Febre: em casos de inflamação severa.
Anemia: resultante da perda contínua de sangue nas fezes.
Tenesmo: sensação de evacuação incompleta.
Náusea e vômito: em casos mais graves ou quando a inflamação é intensa.
Fatores de risco para a colite ulcerativa
Diversos fatores podem aumentar o risco de desenvolvimento da condição, e entender esses fatores é essencial para a prevenção e o manejo adequado da doença. A genética desempenha um papel significativo.
Ter um parente próximo com a doença, como um pai ou irmão, aumenta substancialmente o risco de desenvolver colite ulcerativa.
Estudos mostram que a predisposição genética é um dos principais determinantes, embora a doença não seja diretamente herdada de maneira simples.
A idade também é um fator importante.
A condição é geralmente diagnosticada em pessoas com menos de 30 anos, embora possa surgir em qualquer idade. Adolescentes e jovens adultos são os mais frequentemente afetados, o que indica que a juventude é um período crítico para o desenvolvimento da doença.
No entanto, não é incomum ver casos surgindo em indivíduos mais velhos, particularmente aqueles entre 50 e 60 anos.
A etnia é outro fator que influencia o risco. Pessoas de ascendência judaica Ashkenazi têm uma probabilidade mais elevada de desenvolver colite.
A prevalência entre este grupo é notavelmente mais alta do que na população geral, sugerindo uma predisposição genética particular.
A história de infecção intestinal também pode desencadear a doença em indivíduos predispostos.
Algumas infecções bacterianas e virais do trato gastrointestinal são conhecidas por perturbar o equilíbrio microbiano do intestino, o que pode iniciar ou agravar a resposta inflamatória em pessoas geneticamente susceptíveis.
O ambiente em que uma pessoa vive e os fatores associados ao estilo de vida têm um impacto significativo.
Fatores ambientais, como uma dieta ocidentalizada rica em gorduras saturadas, açúcares refinados e alimentos processados, podem contribuir para o aumento do risco.
A urbanização e a exposição a poluentes ambientais também são fatores considerados.
O uso regular de anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) é outro fator de risco.
Medicamentos como ibuprofeno e naproxeno, quando usados com frequência, podem aumentar a probabilidade de desenvolvimento da condição.
Esses medicamentos podem irritar o revestimento do intestino e desencadear a inflamação.
Embora o estresse não cause diretamente a colite, ele pode piorar os sintomas em pessoas que já têm a doença.
O estresse emocional e psicológico pode desencadear surtos e exacerbar os sintomas existentes.
Portanto, é importante que indivíduos com essa condição pratiquem técnicas eficazes de gerenciamento do estresse, como meditação, exercícios físicos regulares e terapia psicológica.
Em resumo, essa doença é influenciada por uma combinação complexa de fatores genéticos, ambientais e de estilo de vida.
Conhecer esses fatores de risco pode ajudar no diagnóstico precoce e no desenvolvimento de estratégias de prevenção eficazes.
A atenção a esses aspectos pode fazer uma diferença significativa na vida de quem vive com a condição, permitindo um manejo mais eficaz da condição e uma melhor qualidade de vida.
Diagnóstico da colite ulcerativa
O diagnóstico é realizado por meio de uma combinação de exames clínicos, laboratoriais e de imagem.
Inicialmente, o médico realiza uma avaliação dos sintomas, histórico familiar e um exame físico completo. Exames de sangue são frequentemente solicitados para detectar anemia ou sinais de inflamação, indicando a presença da doença.
Exames de fezes são importantes para excluir outras causas de diarreia e identificar a presença de sangue ou infecção.
A colonoscopia é um dos principais métodos diagnósticos, permitindo visualizar o interior do cólon e obter amostras de tecido para biópsia, essenciais para confirmar o diagnóstico e avaliar a extensão da inflamação.
Em alguns casos, uma sigmoidoscopia, que é semelhante à colonoscopia, mas examina apenas o reto e a parte inferior do cólon, pode ser usada, especialmente quando se suspeita de inflamação limitada a essas áreas.
Exames de imagem, como tomografia computadorizada (TC) ou ressonância magnética (RM), também são utilizados para avaliar a extensão da inflamação e descartar outras condições.
Testes sorológicos podem ajudar a distinguir entre colite e outras doenças inflamatórias intestinais.
Durante a colonoscopia, o médico pode coletar pequenas amostras de tecido (biópsias) para análise laboratorial, o que ajuda a confirmar o diagnóstico e a avaliar a extensão da inflamação.
A sigmoidoscopia, por ser menos invasiva que a colonoscopia completa, pode ser preferida em casos onde a inflamação é suspeita de estar limitada ao reto e à parte inferior do cólon.
Tratamentos da colite ulcerativa
O tratamento visa reduzir a inflamação, controlar os sintomas e prolongar os períodos de remissão.
As opções de tratamento incluem medicamentos anti-inflamatórios, como aminosalicilatos (ex.: mesalazina) e corticosteroides (ex.: prednisona), que frequentemente são a primeira linha de tratamento e podem ajudar a reduzir a inflamação e aliviar os sintomas.
Imunossupressores, como azatioprina e ciclosporina, são utilizados para reduzir a atividade do sistema imunológico e prevenir ataques contra o próprio corpo.
Medicamentos biológicos, como infliximabe e adalimumabe, visam proteínas específicas envolvidas na inflamação e são usados em casos moderados a graves.
Antibióticos podem ser prescritos para tratar ou prevenir infecções secundárias que podem ocorrer em pessoas com a condição.
Adaptar a alimentação para evitar alimentos que irritem o intestino, como alimentos gordurosos, condimentados e ricos em fibras insolúveis, pode ajudar a controlar os sintomas.
Suplementos nutricionais são frequentemente necessários para corrigir deficiências de nutrientes como ferro, cálcio e vitamina D.
A proctocolectomia, que envolve a remoção do cólon e do reto, pode ser curativa, mas requer a criação de uma bolsa ileal ou o uso de um estoma.
Viver com colite ulcerativa pode ser desafiador, mas com um plano de tratamento eficaz e uma equipe médica de apoio, é possível viver uma vida plena e ativa.
Informar-se sobre a doença, aderir ao tratamento prescrito e fazer ajustes no estilo de vida são passos cruciais para o manejo bem-sucedido da colite ulcerativa.
Doutor em Gastroenterologia pela FM-USP.
Especialista em Cirurgia do Aparelho Digestivo (HCFMUSP), Endoscopia Digestiva (SOBED) e Gastroenterologia (FBG).
Professor do curso de Medicina da Fundação Educacional do Município de Assis - FEMA.
Médico da clínica Gastrosaúde de Marília.