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O que é Colangiopancreatografia Endoscópica Retrógrada (CPRE)?

por Guilherme Sauniti
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Com os avanços da medicina é possível diagnosticar, prevenir e tratar várias doenças que há décadas não haveria essa possibilidade.

Continue conosco na leitura deste artigo e aprenda sobre a colangiopancreatografia endoscópica retrógrada (CPRE) e como ela é usada para diagnosticar e tratar doenças do sistema biliar e pancreático.

O que é a CPRE?

A CPRE, sigla que se refere à colangiopancreatografia retrógrada endoscópica, é um procedimento médico feito para diagnosticar e tratar uma série  de doenças das via biliares, tanto dentro (ductos hepáticos) como fora do fígado (ducto coleddoco) e das vias do pâncreas (ducto de Wirsund e Santorini).

As doenças que atingem os ductos do pâncreas e das vias biliares apresentam sintomas como dores na região do abdômen, pele pálida, febre, olhos com aparência amarelada e alterações nas enzimas pancreáticas e hepáticas.

Esses sintomas podem aparecer por conta de tumores biliares, pancreatite crônica, cistos e tumores pancreáticos, estenose inflamatórias, complicações de cirurgias feitas em vias biliares, enfermidades no fígado e principalmente por impactação de cálculos (pedra) que migraram da vesícula biliar.

Como é realizada a CPRE?

O exame de CPRE é realizado com anestesia venosa ou sedação, sob o acompanhamento de um profissional qualificado, com o objetivo de relaxar e adormecer o paciente. 

É utilizado um aparelho flexível introduzido na boca do indivíduo, levado até chegar na segunda porção duodenal do seu organismo durante o procedimento.

O aparelho possui uma iluminação e câmera lateral, permitindo que seja visualizada a papila duodenal, local onde os ductos biliares e pancreáticos terminam juntos, lançando suas secreções no duodeno.

Um material especial é colocado dentro da papila duodenal,  que fará a avaliação radiológica da anatomia  do ducto de Wirsung e das vias biliares. 

Isso é possível graças a uma injeção de contraste radiopaco juntamente com as radiografias seriadas feitas sobre o abdômen.

As imagens obtidas pelo CPRE são analisadas pelo médico endoscopista que decidirá no mesmo momento pelo melhor  tratamento ao paciente,  que pode incluir procedimentos como papilotomia, drenagem dos estreitamentos inflamatórios ou tumorais, através de uma prótese endoscópica ou por uma sonda, retirada de cálculos que estão obstruindo a via biliar e outros procedimentos  que forem necessários.

Indicações da CPRE

Como já dito, a CPRE é um procedimento endoscópico indicado para avaliar e tratar de diversas condições relacionadas à patologia biliar e pancreática. Algumas das situações em que a CPRE pode ser recomendada incluem:

  • obstrução biliar secundária a coledocolitíase;
  • estenoses benignas e malignas do ducto biliar;
  • fístulas biliares;
  • disfunção do esfíncter de Oddi;
  • pancreatites agudas recorrentes de causa desconhecida;
  • pancreatite crônica com estenoses sintomáticas;
  • litíase sintomática do canal pancreático;
  • tratamento de pseudoquistos pancreáticos sintomáticos;
  • diagnóstico de neoplasias malignas do pâncreas.

Riscos e complicações da CPRE

A CPRE é um procedimento invasivo, assim , há uma pequena possibilidade de riscos ao paciente.

Alguns problemas podem ocorrer durante o procedimento por reações do organismo do indivíduo à sedação ou anestesia, ou pelas reações relacionadas aos procedimentos terapêuticos e pelos exames diagnósticos. 

Os medicamentos usados para sedação podem causar reações no indivíduo, como flebite no local da punção venosa, e sistêmicas, afetando o sistema cardiorrespiratório, incluindo redução da oxigenação do sangue e do ritmo cardíaco, além de alterações na pressão arterial.

Durante o exame, caso haja a ocorrência de efeitos colaterais, eles serão continuamente monitorados por meio do controle da frequência cardíaca e da pressão arterial do paciente e também, com o uso de aparelhos como um monitor de oxigenação sanguínea.

A equipe médica está capacitada para tratar imediatamente qualquer uma dessas complicações.

As possíveis complicações ligadas ao exame CPRE incluem sangramento digestivo, dores abdominais, pancreatite, perfuração duodenal e distensão abdominal.

A complicação mais comum de acontecer é a pancreatite aguda, que aparece entre 1% a 7% dos casos. Perfuração e sangramento são eventos mais raros, com ocorrência de 0,3% a 0,6% e 0,8% a 2% dos casos, respectivamente, principalmente em pacientes submetidos à papilotomia. 

A infecção das vias biliares (colangite) pode aparecer em aproximadamente 1% dos casos, especialmente no indivíduos que possuem estenoses (estreitamentos) benignas ou malignas.

Esses problemas aumentam o tempo da internação do paciente e podem requerer cuidados que envolvem o uso de antibióticos ou até mesmo cirurgia terapêutica, porém, como mostrado, são de baixa incidência, e o médico que realiza a CPRE também é treinado para identificar e tratar estas complicações.

Recuperação após a CPRE

Após realizada a CPRE, o paciente terá que ficar em repouso total por até meia hora, para que os efeitos provocados pelos medicamentos sedativos sumam. É possível que a garganta dele apresente irritações, acompanhada por um discreto desconforto no estômago. 

Em determinadas situações, se o paciente tiver recebido oxigênio suplementar ao realizar o procedimento, ele poderá sentir uma congestão nasal ou ter alguns espirros.

Se requisitado, ele poderá receber medicações analgésicas. 

Depois do procedimento é recomendado ficar em jejum por 8-12 horas. No entanto, se nenhum procedimento terapêutico foi realizado, é possível que uma dieta mais leve ou a base de líquidos seja liberada.

No dia seguinte após realizar a CPRE, ou se não acontecer intercorrências, o médico concederá a alta hospitalar. 

Nesse momento, o paciente poderá voltar a se alimentar normalmente e tomar suas medicações de rotina, a menos que tenha recebido instruções específicas do médico em contrário. 

O profissional que requisitou o exame é o mais indicado para fornecer orientações sobre o que foi visualizado. Informações adicionais sobre o problema diagnosticado e o tratamento serão fornecidas em uma consulta posterior.

Caso tenham sido feitas biópsias durante o procedimento, a análise será realizada por um laboratório especializado em anatomia patológica de sua escolha, e os resultados serão entregues no prazo estabelecido pelo laboratório. 

Se você tiver passado por alguma terapia médica, o profissional endoscopista fornecerá informações adicionais relevantes.

É importante estar acompanhado por uma pessoa adulta que possa prestar auxílio, uma vez que a medicação usada pode alterar momentaneamente a sua capacidade de raciocinar e  tomar decisões.

A CPRE deve ser realizada por uma equipe de profissionais capacitados para atender o paciente com excelência, com o objetivo de evitar possíveis complicações e também para ajudar o indivíduo a se recuperar após o fim do procedimento. Por isso, procure sempre um especialista.

Imagem de rawpixel.com no Freepik

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Doutor em Gastroenterologia pela FM-USP.
Especialista em Cirurgia do Aparelho Digestivo (HCFMUSP), Endoscopia Digestiva (SOBED) e Gastroenterologia (FBG).
Professor do curso de Medicina da Fundação Educacional do Município de Assis - FEMA.
Médico da clínica Gastrosaúde de Marília.


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